7.10.12

Somos um signo sem interpretação... quase perdemos a língua no país estrangeiro.
 Hölderlin



reflexos

lista de discussão sobre Taoismo.
cheia de spam
nenhum escrito taoista?
do mundo
come o mundo
voluntarista
apelão
sedutor
enganador.

mil e tantos
reunidos sob este horizonte
no aguardo
quem falará?
há pós-metafísica?
silêncio.
a macacada domina
sem opositores
festa dos gordinhos

dor se cala
com analgésicos
ou diagnósticos apaziguados
ou novidades pirotécnicas
ou experiencias exóticas
ou ter possibilidades
ou viagens ao exterior
ou eventos sociais
ou shopping
ou cerveja
ou sexo
ou erudição
ou sabedoria
ou terapia.

nenhum urro.
taoistas são atropelados na nossa época
guardam corpos asfaltados
quem sabe algum apocalipse
nos salve?

ali se diz:
do frágil cimentado
do silêncio estuprado
da cura operada
da fala sem ar para se propagar
do corpo siliconado

você banca o que diz?
adoeça.
quem você procura?
ajuda de quem?
efetividade concreta.
concreta-se vivo
em aberto a obra
permanecerá
além de cada
mil e tantos
testemunhos
de 1 pensamento
habitação
da disponibilidade de tudo
     a todos
        a qualquer hora
da época Auschwitz.









verdade pré-reflexiva


Domina ou cala. Não te percas, dando 
aquilo que não tens. 
Que vale o César que serias? Goza 
bastar-te o pouco que és. 
Melhor te acolhe a vil choupana dada 
que o palácio devido. 

Ricardo Reis, in "Odes" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

festa do silêncio


acordar com um poema todos os dias da vida
não
a isto seria pouco se abrir pro que vivi
é porque meu destino é minha origem
que vi
vívido novo
o invisível em ti
silêncio que se estendia aos céus
ventos que trazem cedo
decisão madura
por si outro
ser o poema
vivido
acordado
a cada aurora das pálpebras
esquecido
como a palavra dita
ao fogo
queimando
sem cessar
um só poema
até o fim
agora aberto
livre
consumado
marca da diferença incolor
transparente nítido transito
ao tempo da vez
inteiro indivizível pedaço
falta e transborda
mundo apocalíptico
exalando vida da terra
sereno brotar brilhante
espelho estrelado do céu
chamado do nunca
única busca perdida garantida pelo ganho

e poderia se chamar aurora
pois vejo um novo dia que está por vir
cantavam por ai o indizível
caloroso
pôr da palavra

e relaxou a noite
por todo fim de dia

A escuridão me basta

É quase meia-noite, estou te esperando na escuridão e no grande silêncio. [sereno]
Lamento todos os meus erros. 
Não me deixe pedir mais do que ficar sentado na escuridão sem ascender alguma luz por conta própria [quero?], nem me abarrotar com os próprios pensamentos para preencher o vazio da noite na qual espero por ti. 
Deixa-me virar nada para a luz pálida e fraca dos sentidos [mundo do ser-no-mundo], afim de permanecer na doce escuridão da confiança e da entrega pura [destinação do humano].

Quanto ao mundo, deixa-me tornar para ele totalmente obscuro para sempre [sem colar no ente]
que eu possa, deste modo, por esta escuridão chegar, enfim, à tua claridade; 
que eu possa, depois de ter me tornado insignificante para o mundo, estender-me em direção aos sentidos infinitos, contidos em tua paz e tua glória.

Tua claridade é minha escuridão.
Não conheço nada de Ti por mim mesmo, nem posso imaginar como fazer para te conhecer.  Se eu te imaginar, estarei errado. 
Se te compreender, estarei enganado. 
Se ficar consciente e certo que te conheço, serei louco. [vias dualistas]
A escuridão me basta.

Thomas Merton

O texto original está aqui:

18.4.12

Anticristos

Três anos após ver o filme, acordei e vi. Ele é o anticristo e ela concretiza o que ele fazia com ela - a relação. Rasgada por saberes do mundo cor de rosa psico-médicos era impossível para ela dizer o que seu corpo vivia. Então seu gesto disse eloquentemente e ele se defendeu como o mundo se defenderia, queimou-a e se encontrou com os seus pares, ao ar livre, este mundo.

25.9.11

A Torinói Ló


 sopra lá fora
  à espreita terrível ventania
   me pensa
    nítida implacável invade o olhar,
     revela-se lágrima
      intimidade com o todo.

10.9.11

homenagem a Chuang Tzu

Aquele que governa os homens vive no caos. [para Confúcio] O que é governado pelos homens vive na tristeza. Yal, portanto, não desejou nem influenciar os outros, nem ser por eles influenciado. A maneira de se livrar do caos e da tristeza é viver com o Tao, na terra do grande vácuo.

Se um homem atravessar um rio e um barco vazio colidir com sua própria embarcação, mesmo que seja um mau humorado não terá muita raiva. Mas se vir um homem no outro barco gritará que ele não é direito, se o outro não ouvir o grito, gritará de novo e mais, começando a xingar, tudo porque há alguém no barco. Se o barco estivesse vazio não gritaria nem ficaria com raiva.

Se você conseguir esvaziar seu barco ao atravessar o rio do mundo, ninguém lhe fará obstáculos e ninguém procurará fazer-lhe mal.

a arvore reta é a primeira a ser cortada.
a fonte d'água límpida é a primeira a ser secada.
se deseja melhorar sua sabedoria e envergonhar o ignorante,
cultivar seu caráter e suplantar os outros,
uma luz brilhará a sua volta,
como se houvesse engolido o sol e a lua.
você não evitará a catástrofe. [para o perfume]

o sábio já dizia, o que se contenta consigo fez uma obra inútil.
o sucesso é o começo do erro.
a fama é a origem da desgraça.
quem poderá livrar-se do sucesso e da fama,
descer e perder-se entre a massa humana [não a de hoje...]
esse fluirá como o Tao, invisível
caminhará como a própria vida, sem nome, nem lar,
é simples e sem exigências
aparentemente um tolo
seus passos não deixam marcas, não tem nenhum poder
nada consegue, não tem reputação,
como não julga ninguém, ninguém o julga.
este é o homem perfeito,
seu barco esta vazio.

[querer é patinar,
quem quis dizer,
arquitetou sua fala,
atento ao delineamento,
fora de seu elemento,
sob os domínios da subjetividade
e do humanismo,
onde a meta é o ser-humano-gafanhoto - eu,
objetivar: dispor ao querer - meu.
Quem busca seu fim?
Sem fôlego,
ou deslumbramento,
ao tétrico,
à produção autoral de mim mesmo.
Quem mora no brilho da lembrança do esquecimento?
E celebra o mundo atual, solvendo-o?
Quem sente e desprende-se da mágoa?
das marcas no corpo, vê, sem reagir,
segue?]

A via de Chuang Tzu por Thomas Merton.